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Vamos pensar então no mercado de trabalho
a partir da perspectiva do trabalhador, inicialmente.
Nós vamos encontrar na literatura sobre o funcionamento do mercado de trabalho
algumas abordagens distintas que vão nos levar a resultados semelhantes.
Essas abordagens, elas estão associadas às contribuições que foram sendo
desenvolvidas, principalmente no final do anos oitenta e anos noventa,
para que nós possamos representar na estrutura lógica da macroeconomia
funcionamento de mercado de trabalho que seja mais consistente com o mundo real.
Então, nós estamos no contexto dos modelos novo keynesianos como já apontamos.
Nesse contexto, a compreensão de o que leva trabalhador a ofertar
trabalho no mercado de trabalho e como a sua decisão de oferta
depende da circunstâncias do mercado de trabalho, é aspecto muito relevante.
Quando nós pensamos que
agente na economia toma uma decisão levando conta
a estrutura do próprio mercado, levando conta, por exemplo,
o nível de desemprego que o mercado esteja num determinado momento no tempo,
nós estamos saindo do âmbito da concorrência perfeita,
no seguinte sentido, a concorrência perfeita ela vai revelar
oferta de trabalho que vai tomar como dado o salário real,
porque vai ser o salário real determinado pelo equilíbrio de mercado, certo,
dado o salário real o trabalhador vai decidir quantas horas ele quer trabalhar,
ou qual vai ser a oferta de trabalho na economia como
todo quando agregamos todos os trabalhadores da economia.
Neste caso, nessa perspectiva novo keynesiana, nessa perspectiva mais
moderna, nós entendemos o trabalhador como sujeito, ou agente,
que não é tomador de preço, ele não toma como dado o salário,
ele vai buscar interferir na formação do salário,
ele vai buscar formar salário e não tomar salário.
Então nós saímos do contexto de indivíduo que é tomador de preço,
que é uma característica da concorrência perfeita,
para contexto de indivíduo que passa a ser formador do preço,
e aqui no caso o preço que nós estamos falando é o salário.
O salário, portanto, vai depender de como esses
agentes vão se posicionar no mercado e nós temos aí,
pelo menos duas maneiras distintas de entender esse posicionamento,
uma é com a teoria de salário e eficiência e a outra,
também bastante comum, é sobre a suposição de que os trabalhadores,
por meio de sindicatos, por meio de agremiações,
por meio da união entre eles, tenham certo poder neste mercado,
então, eles tem uma influência sobre a formação dos salários.
E, dessa perspectiva, que é a perspectiva que nós vamos adotar aqui,
que é uma perspectiva bastante comum nos livros texto de macroeconomia,
nós vamos ter então trabalhador, conjunto de trabalhadores,
que vai atuar no sentido de buscar salários reais
esperados mais elevados, função da circunstância ou
das circunstâncias do mercado de trabalho, num determinado momento.
Então, vamos começar explicando aqui aspecto fundamental,
estamos falando de salário real esperado.
Por que salário real esperado?
Porque a variável sobre a qual os trabalhadores podem ter alguma influência
é sobre o salário nominal, o salário que está sendo negociado com
a outra parte com o contratante, com as empresas, com as firmas.
Esse salário está sendo contratado por conjunto de trabalhadores.
Esse contrato ele vai durar por tempo, então o salário é negociado
períodos de tempo, ele não muda toda hora, ele não muda todo mês.
Então, uma vez que você esteja numa certa categoria, essa categoria de trabalho,
de profissionais, ela terá, geral, uma data base para a renegociação desses
salários e este contrato de trabalho vai durar por período.
Normalmente, no caso brasileiro, esse período é ano,
porque vem da nossa cultura e da nossa
formação de mercado num contexto de muitos períodos de
inflação elevada portanto não era possível negociar salários por mais do que ano.
Então mantivemos essa estrutura, nossos salários normalmente são negociados ou
renegociados termos de contratos, a cada ano.
Mas outras economias esses contratos podem durar dois, três,
quatro, cinco anos, depende de como, de qual é o funcionamento,
quais são as normas do mercado de trabalho.
Também é verdade que esse tipo de estrutura que os trabalhadores tem
poder de barganha função da sua organização, ela tem sido menos relevante,
principalmente na economia americana que a desregulamentação do mercado de trabalho,
levou a negociações mais individuais, e portanto,
diminuindo este poder de barganha que os trabalhadores
poderiam ter se negociassem seus salários conjunto.
Enfim, mas isso continua sendo uma boa aproximação para as economias europeias,
por exemplo, e ainda para a economia brasileira,
mas não necessariamente, esta explicação precisa ser
adotada para que os resultados que nós vamos obter se mantenham.
Também é possível entender esta estrutura e os resultados, a partir do
contexto da teoria de salários eficiência, que eu vou falar brevemente daqui a pouco.
Então vejamos, quando trabalhador,
ou conjunto de trabalhadores vai barganhar por salários nominais,
ele tem que formar expectativa sobre a inflação, por quê?
Porque se ele acha que a inflação no próximo ano vai ser de dez por cento,
ele vai negociar pelo menos aumento de dez por cento do seu salário nominal para
manter o seu poder de compra, para manter o salário real relativamente estável.
Então, se há uma perspectiva, se há uma expectativa que a inflação seja
de dez por cento, geral, esses trabalhadores tentarão
negociar salários que cresçam a mais de dez por cento, ou seja,
uma elevação de 12, 15, por cento nos seus salários nominais,
para que, com isso, eles tenham ganho de salário real.
Então, essa é a estratégia dos trabalhadores.
Do ponto de vista do trabalhador, ele quer pelo menos manter o seu salário real
manter o seu poder de compra, durante a vigência do seu contrato de salário.
Porém, ele também, dependendo das circunstâncias do mercado de trabalho,
vai buscar situações que ele tenha
ganho de poder de compra, ou seja, que o salário nominal cresça mais
que a inflação no próximo período de validade do seu contrato de trabalho.
Então, nesse contexto, o quê que nós temos aqui como importante?
Que a expectativa de inflação será elemento fundamental
na atuação dos trabalhadores no mercado de trabalho busca de salários nominais.
Porém, nós sabemos que quando a situação,
quando a circunstância do mercado de trabalho é de desemprego elevado,
quando a taxa de desemprego é muito grande, os trabalhadores,
ao buscarem salários nominais, também estarão sujeitos à
possibilidade de serem despedidos, de se tornarem desempregados.
Com uma taxa de desemprego muito elevada,
a chance deles conseguirem uma nova colocação cai,
a probabilidade deles se reempregarem após perderem o seu emprego diminui.
Portanto, os trabalhadores se sentirão,
ou terão menos poder para barganhar por salário nominais,
numa situação que a taxa de desemprego na economia seja muito elevada.
Obviamente, estou falando de desemprego e emprego geral.
Quando a gente olha para categorias específicas, para a qualificação da
mão-de-obra e separamos os mercados de trabalho de acordo com a qualificação da
mão-de-obra, também vai ser importante levar conta esse aspecto, ou seja,
o quão difícil é substituir trabalhador muito qualificado por outro, e portanto,
mesmo situações de desemprego mais elevado, talvez esse trabalhador tenha
ainda pouquinho mais de poder de barganha do que trabalhador não qualificado.
Trabalhador não qualificado, numa situação de desemprego muito elevado...
Se há uma tentativa de barganha ou de buscar salários muito elevados,
ele simplesmente vai ser despedido e outro trabalhador,
por salários mais baixos, será contratado.
Então, a situação do mercado de trabalho expressa pela taxa de desemprego
da economia acaba sendo fator muito relevante no poder de barganha
dos trabalhadores por salários nominais mais elevados ou mais baixos.
Então, é muito importante levar conta qual é a situação,
qual é a situação do mercado de trabalho para entedermos qual é o poder de barganha
do lado dos ofertantes de trabalho.
Assim como a taxa de desemprego e a expectativa de inflação são dois
fatores muito importantes nesta barganha por salários nominais,
ou seja, na busca de salários nominais por parte dos trabalhadores,
por parte dos ofertantes de trabalho, outras características
do mercado de trabalho também podem ser bastante importantes e que,
normalmente, são características mais institucionais, características
que estão associadas a quais são as normas de funcionamento desse mercado.
Por exemplo, podemos pensar normas de funcionamento que haja
benefício, a instituição de benefício que
seja dado ao trabalhador desempregado como, por exemplo, o salário desemprego.
Se o mercado de trabalho funciona sob uma norma
que trabalhadores desempregados terão acesso a benefício pago pelo governo,
que é normalmente o salário desemprego, a existência desse salário desemprego
vai afetar a decisão dos trabalhadores barganhar por mais
salários e correr mais risco de estar desempregado, ou seja,
agora estar desempregado não significa ter renda zero, significa ter mínimo de renda,
ter alguma renda garantida pelo benefício governamental.
Então, a existência desse benefício, de certa forma,
muda o patamar a partir do qual os salários nominais são barganhados.
Ou seja, geral, os trabalhadores barganharão salários nominais superiores
aos benefícios oferecidos para o seguro desemprego.
Então, a existência do seguro desemprego afeta a disposição dos trabalhadores
por barganhar por salários nominais mais elevados,
porque diminui o custo de oportunidade de estar desempregado.
Outro aspecto importante é a existência, por exemplo, de salários mínimos,
ou seja, existir salário mínimo na economia já define
patamar inferior a partir do qual os salários são formados.
Então, a mudança nas regras ou na lei que determina qual é o valor do salário
mínimo afeta também a formação dos salários no mercado de trabalho a partir
dessa perspectiva que nós estamos adotando aqui, que é a de que os trabalhadores
terão algum poder de barganha negociarem seus salários conjunto.
Então, há vários aspectos institucionais de maneiras,
de regras de funcionamento do mercado de trabalho que também
afetam os salários nominais buscados pelos trabalhadores.
Então, nós vamos, do ponto de vista prático, deixar esses fatores
congelados e pensar na relação principal, que é dada pela situação do desemprego,
pelo nível de desemprego da economia e pela expectativa de inflação.
Esses demais fatores poderão ser introduzidos na nossa análise como
choques.
Então, uma mudança na lei de salário mínimo será choque sobre o mercado de
trabalho, que vai produzir rearranjo nesse mercado e
a formação de salários diferentes dos anteriores.
A partir de salários diferentes, outras consequências acontecerão na
economia e produzirão flutuação tanto na inflação,
como no emprego como veremos mais adiante.
Então, observem que, voltando para o primeiro fator,
a expectativa de inflação, quanto maior a expectativa de inflação dos trabalhadores,
mais os trabalhadores vão buscar salários nominais mais elevados.
Então, uma relação diretamente proporcional.
Por outro lado, quanto maior a taxa de desemprego,
menor o poder de barganha dos trabalhadores e,
portanto, salários nominais vão crescer menos ou vão ficar estáveis.
Dificilmente, no mundo real, a gente observa salários reais decrescendo,
inclusive porque alguns países isso é proibido por lei,
como é o caso brasileiro, ou seja, que o trabalho diminua,
o salário termos nominais diminua.
Então, normalmente, os salários ou ficam estáveis ou crescem menos que a inflação
ou crescem a mesma taxa que a inflação ou crescem mais que a taxa de inflação.
Na nossa análise, nós vamos considerar a possibilidade de que
esses salários cresçam menos que a taxa de inflação e que isso produza uma queda
no poder de compra dos trabalhadores, uma queda no salário real ao longo do tempo.
Então, vamos pensar nessas possibilidades tendo
vista que dificilmente nós temos salários nominais diminuindo.
Então, ou eles ficam estáveis e a inflação cresce ou eles crescem menos
que a inflação ou crescem igual a inflação ou crescem mais que a inflação,
produzindo grande poder de compra.
Mas este comportamento dos salários nominais, ele também vai estar sujeito,
pelo lado dos ofertantes de trabalho, às condições do próprio mercado,
principalmente termos de desemprego, como a gente já apontou e às outras condições
institucionais, as normas de funcionamento desse mercado.
Nós, olhando pelo lado dos trabalhadores,
vamos chamar, vamos denominar esta estrutura de decisão
dos trabalhadores como sendo a regra de formação de salários.
E nós vamos representar essa regra de formação de salários
num plano cartesiano também, num gráfico para facilitar a nossa compreensão.
Esse gráfico vai apresentar, no eixo vertical,
o salário real e, no eixo horizontal, a taxa de desemprego.
O que é que nós podemos falar sobre salário real e taxa de desemprego
pela perspectiva dos trabalhadores, pela perspectiva dos formadores de salários?
Como nós já apontamos, quanto maior a taxa de desemprego,
menor o poder de barganha dos
trabalhadores buscar renegociação de salários mais elevados.
Portanto, o salário nominal cresce menos que a inflação ou cai.
Vamos supor, por enquanto, já que nós não estamos movimentando a taxa de
inflação ainda, que os salários nominais caiam.
Salário nominal menor, para mesmo nível de preços, o salário real cai.
Então, nós temos uma relação inversamente proporcional entre o salário real e
o desemprego no mercado de trabalho, pelo lado dos trabalhadores.
Pelo lado dos ofertantes de trabalho, quanto maior o desemprego,
mais os trabalhadores estarão dispostos a trabalhar
por salários nominais mais baixos e, portanto, por salários reais mais baixos.
Observem que, pelo lado do trabalhador, o salário real é o salário real esperado,
como eu já chamei a atenção inicialmente.
Isso significa que a inflação que ele leva conta não é a inflação presente ou
a inflação passada, é a inflação esperada, a inflação que ele espera que prevaleça
durante a nova vigência do seu contrato de trabalho que está sendo negociado hoje.
Ponto já importante para observar nesse momento é que a existência de negociações
períodos diferentes do tempo e com prazos diferentes,
ou ainda que elas tenham o mesmo prazo, ano, mas sejam negociadas datas
bases diferentes, produz efeito de rigidez da variação
dos salários nominais na economia que é muito importante para
entender flutuação econômica no contexto da corrente principal.
Não são todos os trabalhadores da economia que negociam os seus salários no
mesmo momento.
Então, categorias profissionais diferentes negociam os seus salários
momentos diferentes.
Isso vai produzindo uma justaposição de contratos, que inclusive é uma
contribuição do John Taylor também, os salários justapostos
produzem uma demora no ajustamento dos salários na economia.
Essa demora no ajustamento dos salários é que vai fazer com que a inflação,
com que o nível geral de preços, portanto,
a inflação demore a se ajustar ao longo do tempo.
Então, a demora no ajuste da inflação não é uma consequência
do fato de que os agentes sejam irracionais
ou de que eles estejam olhando para a inflação passada e,
portanto formam expectativas adaptativas, não.
Ainda que eles tenham expectativas racionais, ou seja,
que eles levem conta a informação disponível para formar as suas
expectativas e que eles levem conta a estrutura da economia para
formar as suas expectativas, por exemplo, a inflação suba,
ainda assim a inflação vai demorar efetivamente para subir,
porque a mudança nos contratos não é feita toda no mesmo momento do tempo.
A justaposição de contratos produz efeito de rigidez
no ajustamento dos salários e, como a gente vai ver daqui a pouco,
também no ajustamento dos preços dos bens e serviços na economia.
E este fator, esta demora nesse ajustamento é exatamente
a característica que abre espaço para que tanto a política monetária,
quanto a política fiscal tenham efeito sobre as
flutuações da macroeconomia.
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